Porque eu
me imaginava mais forte. Porque eu fazia do amor um cálculo matemático errado:
pensava que, somando as compreensões, eu amava. Não sabia que, somando as
incompreensões, é que se ama verdadeiramente. Porque eu, só por ter tido
carinho, pensei que amar é fácil. É porque eu não quis o amor solene, sem
compreender que a solenidade ritualiza a incompreensão e a transforma em
oferenda. E é também porque sempre fui de brigar muito, meu modo é brigando. É
porque sempre tento chegar pelo meu modo. É porque ainda não sei ceder. É
porque no fundo eu quero amar o que eu amaria - e não o que é. É porque ainda
não sou eu mesma, e então o castigo é amar um mundo que não é ele. É também
porque eu me ofendo à toa. É porque talvez eu precise que me digam com brutalidade,
pois sou muito teimosa.
(Clarice
Lispector - Perdoando Deus in Felicidade Clandestina.)
Clarice Lispector uma escritora fantástica, esse fragmento e
muito outros remetem à minha vida. Admiro seu potencial e como ela vê o mundo!
Sou
dramática, intensa, transitória e tenho uma alegria em mim que quase me deixa
exausta. Eu sei sorrir com os olhos e gargalhar com o corpo todo. Eu sei chorar
toda encolhida abraçando as pernas. Por isso, não me venha com meios-termos,
com mais ou menos ou qualquer coisa. Venha a mim com corpo, alma, vísceras e
falta de ar…
O que eu escrevo deve estar de algum modo escrito em mim! (Clarice Lispecto)